De repente todos viraram críticos de arte


Alguns dias atrás eu assisti a um vídeo no facebook, era um tutorial que ensinava como imprimir em blusas o negativo de objetos comuns e imóveis da cidade, eram tampas de bueiros que tinham desenhos detalhados e continham ali traços importantes da história, eram grades e outros objetos todos em metal ou pedra, eram calçadas, postes(...). Então em um dos comentários eu vi uma mulher dizendo: "eu sei o que é isso, fazem isso em minha cidade, é xilogravura". Sabe, meu pai é um importante mestre da xilogravura, o seu ofício envolve vários instrumentos com nomes complicados, que na maioria das vezes ele simplifica e faz de uma forma própria, artesanal e o único metal que eu vejo no processo(o mais simples que não precisa de máquinas), é o prego que ele genialmente usa para talhar a madeira, de onde vem o prefixo grego //xilo/-(madeira).
  Não por acaso estamos em um período pesado, baseado em um amontoado de informações, teorias e jornalismos humoristas que brincam com o inconsciente coletivo em troca de alguns likes. Vem sendo mais importante nos veículos de comunicação a promoção do ego, do que uma troca, uma ponte para o conhecimento.
  Falando em conhecimento, honestamente, eu ando realmente confusa aqui. Eu sei que o conhecimento e a escrita em si foram um importante instrumento de colonização e submissão de todas nações. Eu ainda me lembro de uma oficina que fiz com o escritor, pesquisador Márcio Souza de identidades amazônicas, (a quem for de Recife e interessar ele deixou vários de seus livros na biblioteca do Sesc Santa Rita), em que ele dizia que não houve uma expedição de colonização, mas duas, porque na primeira viagem, foi como um Caramuru, os portugueses estavam vivendo felizes segundo os costumes indígenas e já numa segunda, para conseguir o objetivo primordial, que era a colonização indígena, eles nos colocaram museus, teatros, cultura européia, afinal os índios eram ágrafos, eles nãos tinham documentos, não tinham história.
  Eu penso que por isso, é importante nos tempos atuais, reafirmar que toda cultura imaterial, incluindo a oralidade tem valor significante, histórico, mas em um contexto em que um país inteiro obedece uma constituição em um estado democrático, para ter esse poder nós precisamos tomar todas as ferramentas. Não por acaso muitos índios entenderam que ninguém, senão um índio poderia defender verdadeiramente o direito indígena e buscaram nisso suas graduações. Mas não é só o direito que o povo tem que tomar de conta para não ser manipulado, atacar de dentro e se fortalecer, são todas as faculdades. E de todas as faculdades aquela que o povo mais precisa tomar de conta, além da filosofia e direito, é a arte. Principalmente porque essa faculdade não precisa de um diploma para se ser mestre e também porque a arte sempre foi direito cultural inalienável de todas nações, é ferramenta dos oprimidos, popular.
   Nossos antepassados faziam arte, antes dela ser categorizada e a arte é um poderoso instrumento de impacto de mentes. Então, eu só posso ser levada a crer que para destruir a memória e a cultura imaterial de um povo só se precisa atacar sua arte. A arte sempre salvou, fez com que pessoas que nunca entrariam nos anais da história fossem lembrados, e então abriu mentes para a sensibilidade diante das maioria das tragédias contra povos oprimidos, vejam Guernica de Picasso e o Grito de Edvard Munch.
  Quando o pequeno Hitler não foi aceito na Academia de Belas Artes porque seus trabalhos eram tão sem alma e realistas que pareciam trabalhos mecânicos, ele cresceu e perseguiu toda forma de arte que considerasse menos realista. Eu não quero entrar no reductio ad hitlerum, então ele não foi o único a perceber e odiar a arte. Isso foi um pressuposto para todas ditaduras. Então eu gostaria de falar de uma das histórias de meu pai, Stênio Diniz. Ele fez uma exposição na Bienal de Arte de São Paulo, as pessoas que entravam para ver suas xilogravuras escutavam o barulho de correntes ao entrar, que era ativado por um detector de metal, suas xilogravuras eram voltados para a temática de morte e prisão, mas era ditadura. E claro tinham muitos olheiros. Um tempo depois ele recebeu um telefonema, alguém dizendo que um alemão tinha interesse em seus quadros. Ao entrar no prédio alguém que conhecia ele e estava no elevador disse: "Eu se fosse você passava direto.", foi embora e até hoje não recebeu suas xilogravuras.
  Ontem pela manhã passando pela praia, dois tios(em diferentes carros e percursos, e ao mesmo tempo) tiraram fotos de um faixa pedindo por intervenção civil militar. Um dia atrás dois amigos, de esquerda, falavam contra a arte, porque esse mês todas as exposições de arte resolveram conspirar para toda arte ser "uma bosta", perdão mas não consegui ser mais sintética. Porque a arte vem magicamente em um mês sendo tratada como um instrumento de perversão, como a filosofia e o ensino de história. Dois dias atrás tentaram fechar vários bares LGBTTs de uma "rua de veado", conseguiram alguns. Há pouco tempo "facções" evangélicas começaram a destruir casas de santo, de religião afrobrasileira e mataram um mestre que se negou a quebrar seus próprios objetos de cultura. "Mas não estávamos falando de arte?", não querido, falamos de uma ascensão de atos violentos baseados em uma falência crítica por uma tomada de poder de instituições evangélicas e neoliberais, meses atrás esses mesmos evangélicos perseguiram todos os atores brasileiro que falaram "meu corpo minhas regras", no trailer de Olmo e a Gaivota de Petra Costa e essa mesma perseguição segue agora com funcionários do Museu da Arte de São Paulo que foram violentados.
  Eu não acredito em coincidências ou efeito borboleta, então vamos nos ater aos fatos. Nós sabemos que em ambas exposições tinham um aviso indicativo de maioridade e que exposições sempre são informativas, tem panfletos, tem cartazes, com certeza um responsável tem o poder de interferir aí, e que as diversas instalações são perturbadoras.
  Lygia Clark foi só uma maldita a incorporar gerações. Temos a performance de Marina Abramovic, que ela ofereceu seu próprio corpo para ser furado, cortado ou amaciado(e sim foram várias as pessoas que preferiram por causar dor), "O caderno Rosa de Lori Lamby" de Hilda Hilst famosa poeta e dramaturga brasileira, temos a performance perturbadora de Helio Oiticica com um revólver na boca simbolizando o órgão sexual masculino, ou mesmo o besteseller Lolita, de Stephen Schiff. Clarice Lispector falava sobre sua primeira experiência sexual com a arte, com um livro infantil, foi ali que ela nunca mais emudeceu, lendo Reinações de Narizinho e eu levo sua concepção de arte para mim, ela fala no "êxtase puríssimo", ou no "encantamento do silêncio", o clímax de toda arte, quando não conseguimos explicar o que sentimos e ficamos como estátuas diante de um beijo poderoso, o primeiro beijo, o primeiro beijo de Clarice Lispector foi numa estátua de arte e seu primeiro orgasmo foi com um livro infantil, isso é bem perturbador.
   Há um metapoema de João Cabral de Melo Neto em que descreve o estado de contemplação e criação da poesia como o de um catador de feijões, sendo as pedras a parte principal na consumação da poesia. Parece insano, mas foge da ordem comum, é duro, dilacerante, nós comemos exatamente o que os outros rejeitam e como uma pedra, nos sai rasgando entranhas adentro.
 Então, as pessoas dizem "mas devemos criar limites para arte, devemos dissociar o que é arte do que é profanação, arte moderna não é arte, os de esquerda: a arte é burguesa, os de direita: a arte é de esquerda", independente do que a arte seja e eu acredito que isso é bem relativo, a arte até impressiona quem não quer ser impressionado, mas ela é como uma criança e não caminha sozinha no museu, ou praia(ou não deveria), e excede as fronteiras do Brasil, do presente ou da matéria. Então aqui vai o meu conselho: não querem arte, não vão à exposições de arte como 92% da nossa população, involuam, sejam massas de manobra, mas não falem em cima de informações e conceitos soltos na rede, não só porque uma opinião na rede vira pressuposto/tendência de "verdade", mas principalmente porque a arte só será censurada ou incendiada por quem não a entende, mas ela nunca acabará. Um dia, nem que seja de boca por boca, ela será transmitida e transmutada.

Bibliografias:


http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2016-02/habitos-culturais-crescem-entre-os-brasileiros-de-2007-2015-mostra-pesquisa
http://www.garotasgeeks.com/artista-reproduz-pinturas-classicas-com-personagens-de-desenhos-animados/

Sobre ser um verdadeiro jardineiro

Há um sentimento perturbando o sonho de meus amigos, brasileiros, de que não vale a pena, de que a maioria dos brasileiros anda ignorando aquilo que nós consideramos mais absurdo. A miséria, a PL 4032, a PEC do teto, os muros cinzas queimando sua arte, essa constante que nos acompanha: o medo de ser brasileiro, de afirmar nossas identidades, de sermos pretos, de sermos idosos, de sermos transgêneros e de termos opiniões sobre o mundo e sermos punidos por isso. Com isso eu sinto muita gente dizendo: -Por que continuar nesse país? Eu vou me formar e dar o fora; -Por que continuar nessa vida?
Eu nunca tive argumentos contra qualquer comportamento que nos fazem a gente ignorar o certo pelo o que consideramos errado ou trágico. Mas eu gostaria de dizer que você meu amigo não é o único. Montag de Fahrenheit 451 sentiu o mesmo contra seu peito e a ideia de se jogar contra um cogumelo atômico foi acionada, ele havia perdido seu amor, seu amigo já tinha tomado seu rumo, então porque continuar perseguindo seu sonho e continuar querendo revelar a verdade? 
Eu não posso ler seu futuro, mas eu posso contar o desfecho e a moral da história em Faherenheit 451. E é essa: quando tudo parecer invertido, quando toda a lógica e argumentos forem abandonados por gritos, fogo e represálias. Quando bombeiros que deveriam apagar o incêndio de sua casa, ordenarem queimá-la. Quando quem deveria te ensinar o sentimento de responsabilidade e consciência cidadã forem responsáveis pelo seu fim, proibindo discussões e tirando seu direito de ser com propagandas fascistas generalismo, como "quem defende o futuro defendo ISSO: ----" ou "todos os brasileiros concordam com: -----", a resposta com certeza é NADA.  Apenas lembre desse texto do livro Fahrenheit 451(a temperatura em que uma folha de um livro se queima), de Ray Bradbury. 

"-O que você deu para essa cidade Montag?
-Cinzas. -O que os outros davam uns aos outros? -Nada. Granger parou ao lado de Montag, também olhando para trás. -Todos devem deixar algo para trás quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo, para que sua alma tenha para onde ir quando morrer. E quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. Não importa o que você faça, dizia ele, desde que você transforme alguma coisa, do jeito que era antes de você tocá-la, me algo que é como você depois que suas mãos passaram por ela. A diferença entre o homem que apenas apara gramados e um verdadeiro jardineiro está no toque, dizia ele. O aparador de grama podia muito bem não ter estado ali; o jardineiro estará lá durante uma vida inteira."

Você sabe o que Einstein usou para medir as variações no espaço-tempo do universo? Eventos. Então, quando você rega um flor ou quando você não abandona sua verdade. Ela é com toda certeza um fenômeno e te torna extraordinário por ser verdadeiro com sua essência, um ser continuo que desencadeia a essência de seus sonhos, seu toque, no mundo. Eu sinto que isso é única coisa que me dá vontade de viver. 



É que às vezes sinto os cupins de Clara de Aquarius subindo em meu tronco

Sempre foi confuso para mim lidar com a métrica, do verso ao tempo, em fechar as portas, às vezes eu começo escrevendo um cordel e acabo em um romance, perdida talvez na guestalt da rotina(até aqui por bem dizer). e não é que o espírito de Melancolia de Lars von Trier tenha prendido minhas pernas em um fardo chamado vida. Não, longe disso. Não me ameaça nenhum pouco continuar, a vida diante de todos escarros de escárnios sempre foi mais que um objeto insistente em permanecer, naturalmente ele é meu animal comum, meu próprio quinto elemento.
Em alguma parte de um texto de Walter Benjamin lembro que ele disse: ''o caratér destrutivo não vive o sentimento de que a vida é digna de ser vivida, mas que o suicídio não compensa'' e me pareceu muito tedioso por isso eu dou minhas reviravoltas. Tenho esse único pêndulo em mim e talvez seja o maior de todos, de um lado eu vejo que a sabedoria como Thoreau disse, no fundo está no fútil e que preservar é só mais um orgulho nosso, de tentar expor que sabemos, eternizar, catalogando um grande livro de almas mortas para ninguém (ou alienígenas quem sabe), do outro e ao mesmo tempo, sou a Clara do edifício Aquarius, eu defendo os postais, os livros, a sabedoria, defendo a natureza, o bem como se fosse supremo, a igualdade. "Vocês vão dizer que estou ficando doida", - claro, Clara! Francamente nunca me sai muito boa nisso de ser um pino de encaixe, se eu nascesse mais planta, ou viesse com manual de instruções aí sim essa balança não faria sentido.
Um belo dia uma menina sai do edifício de sua tia em Boa Viagem, ninguém a procura, uma flanêur, alterada, SO-ZI-NH!A!, à procura de um diálogo consigo e com mundo, em sentir paisagens. Eles estavam ameaçando demolir um edifício histórico e eu fui, porque não? Ali vi alguns críticos de ladrilhos falando sobre os escombros do Caiçara. Cai-çar, qual caçar é a ordem do tempo. Caiçara para mim era menino de rio, aquilo me atiçava também, eu queria sentir parte mesmo de fora. Ali várias cabeças em fluxo, de piratas(não sei se o PP se fez de lá para cá em Recife nem busquei entendê-los, mas foi uma troca interessante, apesar de sentir forte sexismo e aquela parte do anarquismo que se isola do gueto, geeks Zona Autônoma de Isolação, não entendo), à advogados, uns almejando tronos, outros só eram importantes, eu: nem policial à paisana, nadinha. Foi meio estranho não poder explicar motivos apenas deglutir tudo aquilo como o melhor banquete que não sentia desde que me roubaram minha infância, fechando o Teatro do Parque. É, talvez seja um pouco de minha criança agindo intuitivamente. A minha mãe fazia questão de me levar às feiras quando podia, de me dar brinquedos artesanais(QUE EU ODIAVA), de selecionar o que eu ouvia, assistia, de me levar aos teatros nas férias na Casa da Cultura, na Praça do Diário. Teve muito cuidado porque eu tenho asma, foi difícil, mas eu pude sentir a tinta em minhas mãos enquanto fazia um vai-e-vem, e aquilo bate e volta quase sempre, é um sentimento que vai se esvaindo de outras infâncias e deveria correr mais livre, é o inverso da palmada mal educada.
De lá para cá eu ainda comisero as palavras e demoro nos posts, perdão Igors, rs. Gosto das coisas em detalhes e com calma, é bem aí que eu me perco, mas estou bem longe de me achar, espero a hora de abrir a maleta com os cupins. É meu trunfo. Você também carrega esse sentimento de que há nesse desequilíbrio um desejo extasiando, controlando e libertando? Eu só não quero ter que escolher um ou outro e quando, eu solto a calma e os bichos, a métrica e o grito, quando sinto que está pronto, pronto.

"Livre estou", relacionamentos abusivos, amor livre e a SÍNDROME DE FROZEN


Tem um zilhão de sentimentos acontecendo em minha cabeça, essa inconstância do universo e das relações sociais em nossa geração, esse acúmulo de conhecimentos e esse compartilhamento instantâneo me provoca uma mudança explosiva em questão de segundos. O que sem muita meditação, escrita, leitura e uma xícara de café à madrugada em claro, eu não passaria fácil. 
Todas essas fobias me tirando fora meus melhores sorrisos, às vezes eu desejo que algo aconteça e me guie por impulsos, mas ao mesmo tempo me vem essa fé e vontade de fazer coisas, e fazer com que elas sejam importantes, e contrário ao desejo meu corpo nu aos 60 anos, deitado no azulejo gelado esperando sentir alguma coisa, eu me olhando no espelho, minha vaidade enrugada, minha escrita sem remetente.
Eu apreciaria conversar sobre ser humano, o quanto persistir na existência é difícil aqui e agora, estamos numa época de bebês com touch screen, crianças que não sabem escrever mas passam áudios, traições pelo tinder, casamentos durando cada vez menos e ainda assim somos incapazes de detectar mudanças em nós, completitude e vagueza. Todo esse karma geracional, a globalização de sentimentos e uma carga de responsabilidade e penitência por esse estado letárgico e transitório que nos vem a conta gotas na nossa veia, como dói não?
Nós aprendemos as lições, que mudam todo dia no microuniverso inconstante da ciência televisionada, a melhor forma de amar, comer, viver bem para sermos aprovados em nosso tempo. Eu sei que quando se trata de espírito e humanidade, só sabe bem quem passou, mas é inegável, nunca o barco demorou tanto para chegar, estamos passando em um estado epilético de sensações e relações, a instantaneidade com que levamos o barco à procura do ouro dos tolos é sintomática, estamos doentes.
A primeira vista é impressionante, todo aquele desejo por algo que vai brilhar para sempre, desbravamos oceanos com essa missão napoleônica ao invés de passar um fax, ou melhor um zap. Lembro de um texto de um nativo indígena nosso, de como ele não entendia o mercantilismo. Como todos esses estrangeiros viajavam anos à fio, muitos voltavam velhos ou nem voltavam, para entregar seu possível acúmulo de riquezas para seus filhos e esposa desfrutarem, enquanto os filhos dos nativos numa visão bem oriental de educação, sabiam carregar tudo que fabricavam, aprenderam a pescar com suas próprias ferramentas, era tudo que precisaria qualquer um para continuar, exatamente o que os pais ofereciam.
Depois vem a desilusão, o tempo de meia vida do ouro de tolos não é eterno, é tão falso, tem um fim. É esse sentimento que carrego das relações abusivas, o conflito de não serem eternas causa um luto em quem as possui, agora somos bombardeados por tantos fins de relacionamentos que estamos bloqueados, andando em cascas de ovos quando o assunto é amor, todas as relações estão em jogo.
Eu ando um pouco frustrada com a presença desse sentimento de vida predatória rondando as relações sociais, fomos educados a entender o amor como um contrato o qual o sangue é promissória. Então nós entregamos nossas manhãs em claro, nossa pequena solitude, todo o momento em que tentamos ouvir nossa própria voz chega um convite para uma festa, você quer andar só alguém pergunta "você está só?", não respeitamos o quadrado do outro, pegamos a mão do outro e fazemos de caneta, nos guiamos como amantes cegos ao invés de desejar se construir, cada um em si, no amor.
Dois filmes explicam bem esse momento que passamos. Uma é a história de Frozen, "livre estou" ela expressa tão bem a mudança dos contos de fada o qual passamos, que vigilantes do credo alheio sabendo do perigo, acusaram de incitarem ao "homossexualismo", sim usaram essa palavra. O filme, mostra dois extremos, o caminho frio para a liberdade ou amor, perseguido de preconceitos e ao mesmo tempo o perigo da instantaneidade o qual mulheres entregam suas vidas, à estranhos com a tarja de amor. Imagina o perigo o qual passaria Ana se tivesse casado? Quando o amor, livre, independe, não está só no amor possessivo e tolo dos contos de fada.
Outro o filme Her, retrata um homem, num futuro distante, sofrendo o luto de um relacionamento com toda a dificuldade laciva de encontrar alguém que se encaixasse em seus mínimos fetiches e desejos. O personagem, a primeira vista, não é perfeito, mas ele o busca e encontra em uma máquina/sistema, o que não sabia era que esse sistema se comunicava com outros sistemas ao mesmo tempo. O fantasma que assombra o personagem principal é o mesmo que nos assombra, a fragilidade das relações por essa conexão tão rápida, que não necessariamente é fulgaz mas faz a gente, aí chega onde quero chegar, faz a gente se reconstruir e desejar uma identidade permanente. 
Eu fiz esse post porque estou com uma certa fobia da rapidez com que máquinas se apaixonam e rompem, e viram a cara, e bloqueiam, ou levam por anos uma relação abusiva, uma legião de zumbis sem personalidade a procura do amor,  quando amor está em todas relações e exige autoconhecimento e conhecimento do outro, deixa o tempo e o espaço amadurecer, que o amor para nascer precisa ser livre.

Amélie Poulain, Clichê Cult Feminino?


Ei, Garota,
Não tem nenhum problema em seu filme francês favorito ser o fabuloso destino de Amélie Poulain, em o Pequeno Príncipe não sair de sua cabeceira ou até você dizer que gosta dele e nunca ter lido, em sua playlist incluir Oitavo Andar de Clarice Falcão, Admirável Chip Novo de Pitty, se você colocou de legenda no seu fotolog, Complicada n Perfeitinha, daquela banda machista que você nitidamente desconhecia. Não tem nenhum problema em te chamarem de clichê ultra romântico.
Você colecionava papéis de carta e tinha um diário com um cadeado de plástico e começava toda folha sem data com os dizeres "querido diário", ou "100/data/p n virar passado", era a esquisita da turma de amigas esquisitas do Jeans Viajante. "Melhores amigas para sempre", eram tantas cartas e depoimentos, hoje você nem vê nenhuma mais e o orkut apagou todos.
Depois você cresceu e os papéis de carta deram lugar a folhas de fichário, você pesquisava frases no google para copiar e brincava de vestir bonecas Dolls na internet, assistia o Clube das Winx com sua prima e brigava para não ser a desastrada em Superespiões demais ou a Docinho em PowerPuffy Girl.
Grande Menina, Pequena Mulher, você ainda tem coleções de adesivos dos cadernos de Pooh e da Pucca, a última vez que te encontrei estava na puberdade, e tentaram tirar você de mim.
Então durante as festas de colégio eu saí com uma saia amarela e curta, um menino saiu de um grupo e veio falar em meu ouvido, eu não entendi, para mim meninos odiavam meninas como em Luluzinha. Deve ter me chamado de puta ou desejado meu corpo nu. Eu não sabia o que era puta, ou o que era sexo, hoje eu assisto as meninas de 8 anos dançar créu com velocidade como eu não fazia nos meus 17, fico imaginando elas com 17 se iram gostar de Amélie.
Amélie Poulain está engavetado em praticamente todas garotas que sentem que nasceram na época ou no lugar errado, porque é um filme acompanhado de sinestesias do auto descobrimento e do desbravamento do amor, é uma fábula em que não sei mais se acredito, mas gostaria de acreditar.
Pouco depois fui apresentada a um estranho que me pediu para ficar com ele, eu não tinha muito assunto, eu não conhecia muito além de Cássia Eller e Beatles e me achava rockeira por isso, minhas amigas insistiram que eu precisava dar aquele passo, era meu aniversário de 15 anos e começaram a por máscaras em mim, eu comecei a ir a festas de forró estilizado, a usar saltos e maquiagem, eu tinha que deixar de lado meu deboísmo infantil, e o gosto diferente que minha mãe tinha me entregado por osmose, eu tinha que criar uma nova personalidade para me enquadrar em grupos da minha idade, das minhas amigas de infância, e eu tinha que gostar disso.
Mas não foi só o beijo de um estranho na cabine de fotografias em Paris em que me reconheci, eu vi você na locadora de filmes do meu bairro, eu já tinha locado praticamente todos, os meus preferidos eram Moranguinho, Fantasia da Disney, Adeus Lênin e Efeito Borboleta, não é que eu não tivesse personalidade definida e escolhia tudo sem ordem, mas é que hoje ainda assisto Pingu com meu sobrinho, a ordem dos fatores não me altera e os filmes nas prateleiras podiam todos ser assistidos por qualquer um, menos os de pornô que eram numa sessão separada.
Quando eu conheci Amélie Poulain ela ficou guardada em mim, que ocasionalmente pensava em todos os orgasmos que aconteciam ao meu redor enquanto atravessava a insônia hormonal e ansiava viver todos estes contos clichês, eu também não tinha ossos de vidro, hoje apesar de não ter o Corpo Fechado e preferir criar supertramps a amores platônicos, me sinto mais quebradiça para continuar acreditando em contos franceses, mas se você acredita não deixe que matem isso em você.
Eu via essa personagem esquisita em mim como quando Janis Joplin se assumiu uma desviada, uma flor parasita, flower power beatnik rompendo o asfalto, ou quando John Lennon em uma demonstração de amor por Yoko colocou Ono em seu nome de casado. Eu que conhecia quase todos os filmes apesar de minha idade pequena e hoje assisto bem menos, não sei também porque culpam Yoko pelo fim dos Beatles e não o sonho de Lennon de ser um pescador e seu livre-arbítrio na construção de seu dadaísmo budista.
Desconhecia completamente o termo cult efervescente, cute, Kawaii, talvez porque gostava de desenhar pixel no paint, mas Mulher Cult, não sei até hoje o que significa ter uma personalidade cult feminina, mas por favor se você é mulher e acha que tem, vá em frente, pelo amor de Deus.

A cidade comunista brasileira que deu certo, os camponeses que foram mortos por ir à Cuba e a CRISE de identidade brasileira.

Há algum tempo me surpreendi, meu pai(Stênio Diniz) abriu um livro sobre a história de Juazeiro do Norte e lá estava um retrato de meus bisavós. Eles esconderam alguns dos poucos remanescentes do genocídio anticomunista de Santa Cruz do Deserto(CE) no porão. Esta, uma comunidade religiosa que tinha como oferta, com a concessão ou bença do Padre Cícero Romão e as mãos do beato Zé Lourenço, levar os miseráveis e enfermos e dar oportunidades de vida com criação de um sistema de trabalho coletivo e com divisão de lucros, a cidade foi crescendo chegando a 2.000 habitantes. Certo dia a nossa "aldeia comunista" foi acordada com chuvas de tiros, foram mais de 2.000 assassinados por aviões de caça e perseguidos políticos, a cidade comunista que deu certo até que virou uma Auschwitz, hoje não sabe ao certo onde estão seus mortos, bastava-se dizer ser de Caldeirão para assinar sua carta de óbito. Mas o que mais me impressiona até hoje é que nenhum livro de história brasileira e quase nenhum crítico anticomunista ou pró socialista comenta a tal tragédia do Caldeirão.
Para começar ela aconteceu pelo pedido de Getúlio Vargas e nos livros de história vemos uma imagem limpa de Getúlio, mesmo ele sendo o carrasco de Olga Benário, mas, bem a lista de presidentes antepassa Getúlio, a nossa história não conta que durante o desmonte da Liga dos Camponeses, aonde Camponeses foram caçados após uma viagem à Cuba a convite de Fidel, ela também não fala que as companhias de petróleo se negaram a fornecer gasolina ao avião dos camponeses e que um a um foram sendo assassinados. Nossa história perpassa pelos terrores do cangaço, mas não cita nem de longe o que foram as chacinas dos latifundiários, é uma história seletiva, sabe-se de livros de história ocultos que estão nas bibliotecas secretas militares e que a história entregue ao povo não é de longe a factual.
Agora, durante esse novo golpe patrocinado pelo anticomunismo norteamericano, vemos surgir discursos que nos mandam ir à Cuba, estratégias como a PEC anticomunista, a escola sem partido sufocando o pensamento político nas universidades, e todos os atentados que surgem com a nova abertura e nosso terceiro poder sem julgamento, é que essa nova liberdade, essa nova liberdade de mercado consiga sufocar ainda mais nossa história, e perseguir todos que façam críticas com seus exércitos virtuais, consiga entrar em nossas casas pleiteando os mesmo antigos discursos e fazer o mesmo que aconteceu com Herzorg,
Nós brasileiros, enfrentamos claramente uma ditadura, o tio Sam sempre esteve presente em nosso país cometendo golpes, assassinatos e desmandos e comandando a nossa política, Serra e a CPI da Alstom não foram os primeiros, lá fora temos El Salvador, com seus kits de tortura. Ninguém está segura neste país porque estamos muito próximos do EUA e defendemos este país antilatinoamericano como modelo, ele quer perpassar segurança mas a realidade é que nossa força militar trabalha contra a gente, os militares tem nossos rostos e dados, nos fiscalizam. Por mais que se venda uma imagem de segurança, o Brasil da Copa e das Olimpíadas não é real, as megaconstruções são apenas arcabouços midiáticos, por trás dessas megaconstruções desses megaeventos temos muitos business, trocas de favores e chacinas.
O que fazer diante de um país completamente entregue e sucateado? Um país servil, acostumado a ser libertado para ser escravizado pela liberdade de mercado, a não falar para não se ajoelhar no milho agora repete o discurso que paulatinamente foi lhe colocado por uma lobotomia, agora temos um covil de Lobões mandando brasileiros, camponeses e comunistas à Cuba. Não vejo muita perspectiva, dou atenção aos trabalhos sociais e outras microrevoluções, o cenário brasileiro é incerto e midiático, os estrangeiros que vem até aqui se iludem, até visitam e se apaixonam pelas favelas, mas não são agentes políticos, à esquerda falta trabalho de base, enquanto a direita, ela monta Igrejas palacianas, tem grande parte das concessões de rádio e TV e missões em países do continente africano com o objetivo claro de desculturalização, foram privados de ter cultura própria e agora querem impor isso.

Referência:
livro: Juazeiro do Padre Cícero, A Terra da Mãe de Deus (Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros)
filme: O caldeirão da Santa Cruz do Deserto (completo- Rosenberg Cariry)
livro: Biografia de Francisco Julião- (Cláudio de Assis)