É que às vezes sinto os cupins de Clara de Aquarius subindo em meu tronco

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Sempre foi confuso para mim lidar com a métrica, do verso ao tempo, em fechar as portas, às vezes eu começo escrevendo um cordel e acabo em um romance, perdida talvez na guestalt da rotina(até aqui por bem dizer). e não é que o espírito de Melancolia de Lars von Trier tenha prendido minhas pernas em um fardo chamado vida. Não, longe disso. Não me ameaça nenhum pouco continuar, a vida diante de todos escarros de escárnios sempre foi mais que um objeto insistente em permanecer, naturalmente ele é meu animal comum, meu próprio quinto elemento.
Em alguma parte de um texto de Walter Benjamin lembro que ele disse: ''o caratér destrutivo não vive o sentimento de que a vida é digna de ser vivida, mas que o suicídio não compensa'' e me pareceu muito tedioso por isso eu dou minhas reviravoltas. Tenho esse único pêndulo em mim e talvez seja o maior de todos, de um lado eu vejo que a sabedoria como Thoreau disse, no fundo está no fútil e que preservar é só mais um orgulho nosso, de tentar expor que sabemos, eternizar, catalogando um grande livro de almas mortas para ninguém (ou alienígenas quem sabe), do outro e ao mesmo tempo, sou a Clara do edifício Aquarius, eu defendo os postais, os livros, a sabedoria, defendo a natureza, o bem como se fosse supremo, a igualdade. "Vocês vão dizer que estou ficando doida", - claro, Clara! Francamente nunca me sai muito boa nisso de ser um pino de encaixe, se eu nascesse mais planta, ou viesse com manual de instruções aí sim essa balança não faria sentido.
Um belo dia uma menina sai do edifício de sua tia em Boa Viagem, ninguém a procura, uma flanêur, alterada, SO-ZI-NH!A!, à procura de um diálogo consigo e com mundo, em sentir paisagens. Eles estavam ameaçando demolir um edifício histórico e eu fui, porque não? Ali vi alguns críticos de ladrilhos falando sobre os escombros do Caiçara. Cai-çar, qual caçar é a ordem do tempo. Caiçara para mim era menino de rio, aquilo me atiçava também, eu queria sentir parte mesmo de fora. Ali várias cabeças em fluxo, de piratas(não sei se o PP se fez de lá para cá em Recife nem busquei entendê-los, mas foi uma troca interessante, apesar de sentir forte sexismo e aquela parte do anarquismo que se isola do gueto, geeks Zona Autônoma de Isolação, não entendo), à advogados, uns almejando tronos, outros só eram importantes, eu: nem policial à paisana, nadinha. Foi meio estranho não poder explicar motivos apenas deglutir tudo aquilo como o melhor banquete que não sentia desde que me roubaram minha infância, fechando o Teatro do Parque. É, talvez seja um pouco de minha criança agindo intuitivamente. A minha mãe fazia questão de me levar às feiras quando podia, de me dar brinquedos artesanais(QUE EU ODIAVA), de selecionar o que eu ouvia, assistia, de me levar aos teatros nas férias na Casa da Cultura, na Praça do Diário. Teve muito cuidado porque eu tenho asma, foi difícil, mas eu pude sentir a tinta em minhas mãos enquanto fazia um vai-e-vem, e aquilo bate e volta quase sempre, é um sentimento que vai se esvaindo de outras infâncias e deveria correr mais livre, é o inverso da palmada mal educada.
De lá para cá eu ainda comisero as palavras e demoro nos posts, perdão Igors, rs. Gosto das coisas em detalhes e com calma, é bem aí que eu me perco, mas estou bem longe de me achar, espero a hora de abrir a maleta com os cupins. É meu trunfo. Você também carrega esse sentimento de que há nesse desequilíbrio um desejo extasiando, controlando e libertando? Eu só não quero ter que escolher um ou outro e quando, eu solto a calma e os bichos, a métrica e o grito, quando sinto que está pronto, pronto.

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