Sobre ser um verdadeiro jardineiro

06:36 pagudiniz.wix.com/homocordialis 0 Comments

Há um sentimento perturbando o sonho de meus amigos, brasileiros, de que não vale a pena, de que a maioria dos brasileiros anda ignorando aquilo que nós consideramos mais absurdo. A miséria, a PL 4032, a PEC do teto, os muros cinzas queimando sua arte, essa constante que nos acompanha: o medo de ser brasileiro, de afirmar nossas identidades, de sermos pretos, de sermos idosos, de sermos transgêneros e de termos opiniões sobre o mundo e sermos punidos por isso. Com isso eu sinto muita gente dizendo: -Por que continuar nesse país? Eu vou me formar e dar o fora; -Por que continuar nessa vida?
Eu nunca tive argumentos contra qualquer comportamento que nos fazem a gente ignorar o certo pelo o que consideramos errado ou trágico. Mas eu gostaria de dizer que você meu amigo não é o único. Montag de Fahrenheit 451 sentiu o mesmo contra seu peito e a ideia de se jogar contra um cogumelo atômico foi acionada, ele havia perdido seu amor, seu amigo já tinha tomado seu rumo, então porque continuar perseguindo seu sonho e continuar querendo revelar a verdade? 
Eu não posso ler seu futuro, mas eu posso contar o desfecho e a moral da história em Faherenheit 451. E é essa: quando tudo parecer invertido, quando toda a lógica e argumentos forem abandonados por gritos, fogo e represálias. Quando bombeiros que deveriam apagar o incêndio de sua casa, ordenarem queimá-la. Quando quem deveria te ensinar o sentimento de responsabilidade e consciência cidadã forem responsáveis pelo seu fim, proibindo discussões e tirando seu direito de ser com propagandas fascistas generalismo, como "quem defende o futuro defendo ISSO: ----" ou "todos os brasileiros concordam com: -----", a resposta com certeza é NADA.  Apenas lembre desse texto do livro Fahrenheit 451(a temperatura em que uma folha de um livro se queima), de Ray Bradbury. 

"-O que você deu para essa cidade Montag?
-Cinzas. -O que os outros davam uns aos outros? -Nada. Granger parou ao lado de Montag, também olhando para trás. -Todos devem deixar algo para trás quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo, para que sua alma tenha para onde ir quando morrer. E quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. Não importa o que você faça, dizia ele, desde que você transforme alguma coisa, do jeito que era antes de você tocá-la, me algo que é como você depois que suas mãos passaram por ela. A diferença entre o homem que apenas apara gramados e um verdadeiro jardineiro está no toque, dizia ele. O aparador de grama podia muito bem não ter estado ali; o jardineiro estará lá durante uma vida inteira."

Você sabe o que Einstein usou para medir as variações no espaço-tempo do universo? Eventos. Então, quando você rega um flor ou quando você não abandona sua verdade. Ela é com toda certeza um fenômeno e te torna extraordinário por ser verdadeiro com sua essência, um ser continuo que desencadeia a essência de seus sonhos, seu toque, no mundo. Eu sinto que isso é única coisa que me dá vontade de viver. 



0 comentários: